VIRMAN FALA DE PÁSSAROS
Tobias Barreto, 07 de outubro de 2019
Olá, Amigo Saracura,
Creio que agora, passadas as
tribulações da Bienal, já poderá ler meu pequeno comentário sobre sua mais
recente grande obra. Parabéns. Você, realmente, como quem não quer nada, vai
mexendo com os sentimentos alheios, não lhe importando se faz rir ou chorar,
não é? Mais uma vez, senti-me envolvido na trama dos seus personagens que, num
tempo próximo ao meu, correram caminhos por onde passei e sofreram sofrências
semelhantes. Estou certo de que você, tal qual Zé de Ulisses, venderá sua
"farinha" com muita facilidade, pois ela é, de fato, de excelente
qualidade.
Um grande abraço de Vírman:
PÁSSAROS DO ENTARDECER! Chegou!
Eram dezessete horas e vinte e três minutos de dois de outubro. Tomei-o e
comecei a lamber pelas beiradas: a capa, a contracapa, as orelhas, o sumário...
O pau-de-arara cheio, encimado pelo urubu cabeça vermelha; um resumo da
epopeia, excertos do romance e comentários sobre os livros do autor.
Eu
já tinha certeza de que iria gostar, como gostei dos anteriores. Mas não iria
cometer o mesmo desatino que cometera, quando li os demais. Na minha ânsia de
ler tudo de vez, esquecera que o melhor da refeição é o mastigar vagarosamente
com os maxilares e deixar que, através da deglutição lenta, desça o bolo alimentar
pela faringe, em forma de pasta, para lhe sentir todo o sabor. Desta vez, não. Iria jantar, rezar o terço de
N. Senhora e acompanhar a missa de N. Senhor pela televisão e, aí, sim, ir ao
Sumário, onde encontraria cento e quinze títulos, cada qual mais gostoso de se
ler, contando as “sofrências” de Zé de Ulisses, deste próprio e de Omerin.
Zé
de Ulisses, principal personagem do romance, tal qual urubu de cabeça vermelha,
com olfato e visão ultra desenvolvidos, descobria meios de sobrevivência até em
mata fechada. Não levara siringe – órgão vocalizador – para que ninguém lhe
ouvisse os “ais” da fome, do frio e do cansaço sofridos. Queria vencer para
chegar na terrinha como herói. Entre idas e vindas chegou e, como verdadeiro
herói, criou dez filhos, ensinando-lhes o caminho certo do trabalho e da
decência.
Sua
leitura, recordou-me os tempos de migrante, quando passei uma semana na
carroceria de “Céu Azul”, na década de quarenta, viajando do Bandeira, em
Itororó – “no Sul” - para os “Campos de seu Thomé”, quando vi a suçuarana, de
noite, comendo os ossos de galinha, jogados de cima do carro pelos passageiros.
Fez-me também voltar à memória minhas “migrâncias” por Presidente Prudente,
Presidente Epitácio, Guaíra, Foz de Iguaçu e até Assunção, onde estive em 1960.
Mas aí já era passeio.
A
leitura de “Pássaros do entardecer” levou-me a um estado de nostalgia que eu
não sabia explicar se era tristeza ou saudade gostosa ou ambas “juntas e
misturadas”. Tal qual Zé de Ulisses, o sonho de voltar para “minha Terra
Vermelha” rondava minha cabeça. Por mais que parecessem vantajosas as
perspectivas casamenteiras com alguma fazendeira de Corumbá, maior era a
vontade de retornar à minha Campos, livre e desimpedido de “bagagem” para ter
liberdade de escolha.
Mais uma vez, não
adiantou querer dominar-me e mastigar com vagar. Os textos de “Pássaros do
entardecer” – por pequenos e pela arte com que são escritos - são um convite
para ler-se o seguinte, assim que se termina o anterior. Desta forma, senti-me
envolvido por uma simbiose de sentimentos alegres e tristes – mais alegria que
tristeza – levando-me, de uma assentada, à página 181 e no dia seguinte...
pronto, acabei.
(Vírman,
Tobias Barreto/SE, 2019).
xxx
(Saracura
responde o email:
Amigo
Virman,
Quem
me dera ter mais leitores como você, meu irmão! Que não deixa o livro dormir,
que sofregamente o absorve, que se deixa envolver, que se entrega e que lambe
os beiços ao final, querendo mais ainda. Esse finzinho eu abusei, pois não
chegou a tanto. Mas poderia muito bem ter chegado, pelas 181 páginas devorados
de uma assentada e as outras 113 de outra. Nessa nossa idade, ninguém faz o que
você fez sem justo motivo.
Obrigado,
por mais essa força e esse prêmio que sua resenha me dá.
Estou
aqui comemorando vitória, fazendo uma festa dentro de mim, aproveitando porque
não é sempre que ocorre. Um cabrinha
escaldado de cocorote, estranha e fica mesmo abestalhado e só lhe sai da boca
obrigados e obrigados, que são pedaços da gratidão que toma conta de mim.
Um
grande abraço, Saracura, em 2019out07.

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