quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

JOÃO GOMES BARRETO FALA BEM


JOÃO GOMES BARRETO FALA BEM




(Foto ilustrativa do acervo de O Escritor na Livraria)


Primeiro ele me ligou na segunda pela manhã, estava lendo o livro e encantado. Falou que cada frase o levava a um mundo misterioso.
Hoje, dia 11 de dezembro as 13:15 horas, ligou-me, outra vez.




Eu estava em busca de meu carro no estacionamento do USE onde fora visitar de Lourival Rodrigues de Carvalho, um amigo de 91 anos que quebrou a perna e há três dias aguarda a vez de se operar. Chegara antes das onze mas perdi-me no emaranhado de padiolas da Ala Verde, além de me encontrar com um tal Fernando Nicolau, carreiro (talvez o último carro de boi em atividade em Sergipe), da Mangabeira, em Campo do Brito, que eu nunca havia visito. Nicolau sofreu um acidente de moto e estava agoniado para receber logo alta pois a fila de carreto estava grande o esperando.

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Encostei-me à sombra da última parede antes do escampado onde estava meu carro estacionado. O vento ali fazia corrupios impedindo-me ouvi bem o que falava João. Fiz de uma mão uma cuia, cobri o ouvido, dei costas ao nascente, e eliminei a interferência.

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“Seu novo livro, Pássaros do Entardecer, é bom demais. Acabei de ler. Muitas passagens me emocionaram, me divertiram, me deixaram em suspense. Olga está lendo, agora, e me chama a cada momento para me contar momentos grandiosos que eu já presenciara:  As mulheres nas roças de algodão, o amor puro nos bancos do pau de arara, o poeta Omerin e a sua princesa escandinava, Branca de Rufino. A morte de Aristides...
Escrita leve, simples, rica, gostosa. Palavras que criam imagens que não se apagam.
Pássaros do Entardecer é um belo livro, uma história que prende e que dignifica.
Esta é a sua grande obra, Saracura.  

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E na quarta-feira pela manhã, dia 16 de janeiro, João me telefonou outra vez. Eu estava no aeroporto providenciando o passaporte que venceu e planejo viajar este ano à Portugal, que não conheço. Uma força me puxa pra lá, talvez um ancestral com um prêmio ou castigo a me entregar.  

“Olga terminou de ler Pássaros. Riu demais, adorou cada capítulo. Eu e ela estamos de acordo que o autor conseguiu mostrar a nação desses heróis itabaianenses que   saem de seus povoados para dominar o mundo. O povo empreendedor de Itabaiana salta em cada página, em cada imagem descrita, nítido e encantador. Que é o povo sergipano, o nordestino, o brasileiro. Depende apenas das perspectiva de quem lê a obra de Saracura.  
Na minha última viagem, ao desembarcar no aeroporto do Rio de Janeiro, um rapaz estava sentado em um banco no hall de saída com um saco enorme ao lado e um jeito de gato perdido em mudança. Nem sei porque o olhei. Ele tinha a cara do povo de Itabaiana. Nem sei porque perguntei se era. Disse-me que era do Carrilho (povoado célebre para produção de castanha assada na brasa em Itabaiana), e o saco continha castanha de caju assada na brasa. Gastara 150 reais em excesso de bagagem e agora estava ali pensando como chegar ao pouso em Copacabana, que lhe indicaram. Era sua primeira viagem ao Rio.
Venderia as castanhas em retalho aos banhistas na praia. Achava que daria para ganhar algum dinheiro, pois trouxera farinha seca e jabá desfiada para 15 dias.  Comprara a passagem nesses promoções inacreditáveis que as companhias aéreas, de quando em quando, oferecem. E partiu para a aventura.
Nesse momento, chegou meu amigo que me apoia quando vou ao Rio.
Eu e Olga demos uma carona ao rapaz e ganhamos um amigo, com o qual tenho mantido contato. Ele vendeu suas castanhas, ganhou dinheiro, retornou à sua Itabaiana, e deve, logo que resolva assuntos pessoais, partir para uma nova aventura. Em minha cabeça, vejo-o no aeroporto de Buenos Aires, de Porto Alegre, ou na rodoviária Presidente Prudente pegando um ônibus para o Paraguai para resgatar seu pai doente em um local ignorado, com o fez  Zé de Ulisses. Oh, desculpe! Acho que estou envolvendo em seu belo romance o vendedor de castanha que conheci. Para homens assim determinados há sempre um destino promissor”.

Disse mais coisas boas sobre Pássaros do Entardecer...    

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O que o pobre autor que pouca gente lê, pode dizer em um momento desses?
Só consegui gaguejar: “Muito obrigado. Fale de meus livros a seus amigos para eles se interessarem em ler também”.
Eu sei que João Gomes e Olga Barreto (essa minha professora de geografia no colégio Arquidiocesano nos idos de 1963 (por aí)) atenderão o meu pedido.
E sinto que você, que agora está lendo essa notinha, achará um jeito de ler também, pelo menos, Pássaros do Entardecer.   

(Por Antônio Saracura, Aracaju, 2019dez20)


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